A partir de hoje, passa a estar disponível ao público a base de dados "DIGIGOV - Diário do Governo Digital (1820-1910)", concebida e concretizada pelo CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (Universidade do Porto).
Não poderíamos deixar de o anunciar com pompa, não só por termos modestamente colaborado com algumas dicas para o melhoramento do interface de pesquisa, mas sobretudo por acreditarmos que esta nova base de dados é uma das mais importantes em língua portuguesa. Efectivamente, ela abrange a imprensa diária oficial de Portugal ao longo de noventa anos ininterruptos, sendo a mais completa que - por agora - existe baseada na imprensa portuguesa. São quase 30 mil edições do jornal oficial do Estado Português, o qual conheceu várias designações mas foi sobretudo publicado como "Diário do Governo". Se considerarmos que cada edição estendeu-se ao longo de várias páginas, e que as edições mais tardias tinham, por vezes, bem mais do que dez páginas cada uma; se considerarmos que esta base de dados inclui ainda os suplementos, os apêndices e as edições extraordinárias; conclui-se que estamos, efectivamente, perante uma fonte histórica de grande abrangência cronológica. Poder-se-á pensar que esta base de dados, por ser referente a um jornal oficial, mesmo com a aludida grande abrangência cronológica não será muito relevante para pesquisas genealógicas. Nada mais falso. Na base de dados DIGIGOV podemos encontrar inúmeras referências com interesse genealógico, algumas das quais não podem sequer ser encontradas noutras fontes. Por outro lado, o facto de abranger 90 anos, dia após dia, significa que é elevadíssima a probabilidade de encontrarmos referências a antepassados nossos. Mais importante ainda: esta base de dados pode ser extremamente útil para desenvencilharmos difíceis nós genealógicos, sobretudo os que foram causados por efeito de migrações. Aliás, com base em testes que fomos fazendo ao longo dos últimos dois meses, podemos mesmo afirmar que a base de dados "DIGIGOV" é uma fonte alternativa muito interessante para quem quer começar uma pesquisa genealógica e não tem mais do que dois ou três nomes de antepassados presumivelmente portugueses nascidos em finais do século XIX, sem qualquer referência a datas ou localidades concretas. Nesse sentido, esta base de dados pode ser crucial para muitos brasileiros (e ainda canadianos, norteamericanos e havaianos) que procuram as suas origens em Portugal. Entre muitos motivos que nos permitem encontrar referências a antepassados nas páginas da imprensa oficial portuguesa, estão - obviamente - a participação na vida política nacional, regional e local (mesmo que esporadicamente, como no caso da subscrição de petições ou abaixo-assinados), a obtenção de ordens honoríficas e de mercês régias (nomeações e licenças dadas ao que hoje conhecemos como o "funcionalismo público", o que inclui desde juizes a engenheiros de obras públicas, de professores de liceu e mestres-escola a tabeliães, entre muitos outros profissionais). Entre os motivos estão também a participação na constituição ou alteração de sociedades ou o registo de patentes e marcas comerciais - o que significa que as páginas da imprensa oficial portuguesa estão igualmente repletas de menções a negociantes. Mas, mais importante do que isto, ao longo dos primeiros 90 anos de imprensa diária oficial em Portugal, ficaram registados no papel anúncios e avisos vários, incluindo incontáveis editais derivados de processos judiciais. Estes anúncios e editais podem incluir informações fundamentais para o processo de pesquisa genealógica. Damos vários exemplos, alguns dos quais ilustramos neste texto: o casamento de estrangeiros em Portugal; os avisos a parentes moradores em parte incerta (nomeadamente no Brasil) quando havia habilitações de herdeiros ou inventários orfanológicos a decorrer; os avisos referentes a processos de falência ou a demandas judiciais sobre dívidas; os anúncios referentes à mudança de titular, por falecimento do titular anterior de títulos do Montepio; os anúncios referentes a mudanças de nome (tema sobre o qual estamos a preparar um estudo); ou os anúncios e editais feitos na sequência de processos de separação de pessoas e bens (vulgarmente designados como "de divórcio"). Sobre esta última tipologia de avisos e editais contamos muito em breve trazer aqui exemplos concretos, os quais são particularmente interessantes para a pesquisa genealógica. Também muito em breve traremos aqui algumas dicas sobre como pesquisar na base de dados "DIGIGOV" aproveitando ao máximo todas as suas funcionalidades. Por agora, convidamos a que naveguem na base de dados, pois, muito provavelmente, irão já encontrar vários resultados interessantes e - talvez - inesperados. Parabéns ao CEPESE por mais esta ferramenta de grande utilidade pública e boas pesquisas! Ligação para a base de dados: https://digigov.cepese.pt
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Dezembro 2021
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